A mãe que declarou guerra ao TikTok após o filho ser vítima

Em fevereiro de 2023, Zackery Nazario, um garoto de apenas 15 anos, subiu no teto de um trem em Nova York para gravar um vídeo. Ele estava praticando “subway surfing”, um desafio viral estúpido e mortal que ele via todos os dias no seu feed do TikTok e Instagram.

Ao cruzar uma ponte, sua cabeça foi atingida por uma viga. Ele foi decapitado e seu corpo caiu entre os vagões, sendo destroçado em segundos. Agora, sua mãe está travando uma guerra que pode mudar a internet para sempre.

Norma Nazario, a mãe de Zackery, não culpa apenas a imprudência do filho. Ela aponta o dedo para dois gigantes: Meta (dono do Instagram) e ByteDance (dono do TikTok). Em um processo judicial sem precedentes, ela os acusa de serem os verdadeiros assassinos de seu filho, alegando que seus algoritmos viciantes e irresponsáveis o empurraram para a morte.

As empresas, como de costume, se esconderam atrás de uma lei que as protege, a famosa Seção 230, que basicamente diz que elas não são responsáveis pelo que os usuários postam. Contudo, um juiz de Nova York acaba de tomar uma decisão bombástica que abriu uma fresta nessa armadura.

E o que está em jogo agora não é apenas o caso de Zackery, mas o futuro de como as redes sociais operam e lucram com o perigo.

O algoritmo como arma do crime

O argumento da mãe de Zackery é simples e aterrorizante. Ela alega que o Instagram e o TikTok não foram apenas plataformas passivas onde seu filho encontrou os vídeos.

Pelo contrário, ela afirma que os algoritmos das empresas são um “produto defeituoso” que identificou o interesse de Zackery por conteúdo perigoso e, ativamente, o bombardeou com mais e mais vídeos de “subway surfing”.

Segundo a ação, as plataformas criaram um ciclo de vício, alimentando a busca do adolescente por adrenalina e validação social, tudo para mantê-lo engajado e lucrar com sua atenção.

A equipe jurídica argumenta que isso não é sobre liberdade de expressão, mas sobre um design de produto que, para um cérebro adolescente ainda em formação, funciona como uma arma.

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A muralha de proteção das big techs pode ruir?

A defesa do Meta e do TikTok é a mesma de sempre. Eles lamentaram a morte “de partir o coração”, mas imediatamente invocaram a Seção 230, a lei americana de 1996 que tem sido o escudo de ouro das big techs por décadas.

Essa lei as isenta de responsabilidade pelo conteúdo de terceiros. Para eles, a culpa é de quem postou o vídeo, não da plataforma que o promoveu para milhões.

No entanto, o juiz Paul Goetz, da Suprema Corte de Manhattan, discordou. Em sua decisão, ele afirmou que o caso de Nazario é diferente.

Ele permitiu que o processo por “homicídio culposo” continue, sugerindo que a forma como o algoritmo seleciona e empurra conteúdo para um usuário pode, sim, ser considerada uma ação da própria empresa, e não apenas uma hospedagem passiva.

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Um novo campo de batalha legal

Essa decisão é uma bomba no colo do Vale do Silício. Se o processo de Norma Nazario for bem-sucedido, ele pode criar um precedente legal devastador para as redes sociais.

Significaria que elas poderiam ser responsabilizadas não apenas pelo que não removem, mas pelo que seus algoritmos decidem promover ativamente.

Dados recentes mostram que pelo menos seis pessoas morreram praticando “subway surfing” apenas em 2024. O caso de Zackery, portanto, não é isolado. Ele é o rosto de uma tragédia moderna, onde a busca por curtidas, impulsionada por algoritmos projetados para viciar, está custando vidas.

A guerra desta mãe solitária contra dois dos maiores impérios do mundo está apenas começando, e seu resultado pode nos afetar a todos.

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