O que aprendi sobre coragem ouvindo histórias das minhas pacientes

Sabe aquele papo leve de manhã, quando o café ainda tá quentinho e o dia nem começou direito? Pois é, foi assim que tudo começou. A pergunta veio meio sem intenção, mas caiu fundo: “O que mais te marcou esse ano lá no consultório?” Na hora, não consegui responder. Fiquei ali, mexendo no café, tentando lembrar de alguma história, mas só depois, no caminho para o hospital, é que a ficha caiu.

É engraçado como as coisas voltam à mente quando a gente está distraída, né? Fui me lembrando de uma paciente bem jovem, cheia de energia. Mas já carregando uma montanha de expectativas que não eram nem dela. Ela queria colocar prótese nos seios — não porque se achava feia, mas porque sentia a pressão. Aquela coisa de querer agradar os outros, sabe? Ela falou: “Você não faz ideia da pressão que a gente sente.” E olha, toda mulher já sentiu isso em algum momento. Não tem como fingir que não.

Outra história veio à cabeça logo depois. Dessa vez, uma mãe recém-parida, cansada, mas determinada a voltar ao corpo de antes da gravidez. Só que o motivo era de partir o coração: ela me disse, chorando, que tinha medo do casamento não aguentar a espera. Dá um aperto, porque não era só sobre beleza, era sobre o medo de perder quem ela ama por causa da aparência. Aqui em casa já rolou esse tipo de conversa também — é aquela sensação que só quem já passou por mudanças no corpo entende.

Cheguei no hospital ainda com essas histórias grudadas na cabeça. A primeira paciente do dia era a Luiza, que esperava sorrindo pra fazer o explante das próteses dos seios. Ela soltou um: “Hoje vou me reencontrar com quem eu nunca quis deixar de ser!” Fiquei curiosa, perguntei o que ela queria dizer. E veio aquela resposta madura: “Achei que só seria bonita com as próteses. Que besteira. Nunca faltou nada, só faltava eu gostar de mim do jeito que sou.”

Olha, essa fala ficou comigo. Tem uma força imensa na mulher que resolve virar a chave e assumir quem é de verdade. 2024 parece ter sido o ano em que mais mulheres disseram, com uma calma bonita: “Agora, a escolha é minha.” Não é mais aquela pressão silenciosa, escondida… Agora tem voz, tem história e tem decisão.

Essas experiências todas me mostraram que beleza não é um lugar pra chegar — é um caminho. E, no fim das contas, o mais bonito mesmo é ver a coragem de cada mulher que enxerga o próprio valor, mesmo quando o mundo inteiro quer te convencer do contrário. Já passei por esse momento de dúvida e insegurança, sei o peso que é. Mas a leveza de se olhar com carinho merece ser comemorada, nem que seja só com um café de manhã ou uma conversa sincera no espelho.

Pressão estética: quando o corpo vira moeda de troca

Você já se sentiu cobrada a mudar alguma coisa só pra agradar alguém ou encaixar num padrão? Eu nem preciso pensar muito pra lembrar de alguma amiga — ou até de mim mesma — passando por isso. Às vezes, nem percebemos que nosso corpo começa a virar uma espécie de moeda de troca, como se a gente precisasse se moldar pra manter a relação ou ter aceitação. Isso cansa, desgasta e vai roubando um pedacinho da nossa autoestima.

O engraçado é que, enquanto todo mundo foca no resultado do espelho, pouca gente enxerga o processo pesado que é tentar se encaixar. Parece que ser mulher carregando expectativas já virou rotina, mas ninguém falou pra gente que não precisava aceitar tudo calada.

O reencontro com o próprio corpo

Você já parou pra pensar no quanto mudou a relação com o próprio corpo ao longo do tempo? É muito comum, principalmente depois de grandes mudanças, como uma gravidez ou uma cirurgia, a gente se cobrar um retorno rápido ao “corpo de antes”, como se fosse uma obrigação. Só que, na prática, cada corpo tem seu ritmo. E relembrar disso pode ser libertador.

Conheço mulheres — e já vivi isso também — que só se sentiram livres quando entenderam que beleza não tem receita pronta. A Luiza, por exemplo, decidiu tirar as próteses porque finalmente percebeu que não precisava delas pra se sentir bonita ou suficiente. Nessas horas, parece que a gente respira aliviada só de saber que pode escolher o próprio caminho sem precisar dar satisfação pra ninguém.

Quando a autoestima vira resistência

O mais bonito de ver é que, aos poucos, a autoestima feminina tem se transformado em resistência. E não é aquela resistência raivosa, de briga. É uma coisa mais serena, como quem finalmente entende que ser você mesma basta. É coragem pra falar “que bobagem” pra tudo aquilo que botaram na nossa cabeça.

Já falei pra amigas e repito aqui: não existe corpo perfeito, existe corpo real, com marcas, histórias, memórias. E todo mundo merece se olhar no espelho e enxergar além dos padrões. O segredo é se acolher, ser gentil e lembrar que, no fim das contas, ninguém sabe mais de você do que você mesma.

Essas histórias de mulheres que se reconectam com o próprio corpo mostram que a jornada da autoaceitação é possível sim. Talvez dê medo no começo, mas o alívio que vem depois não tem preço. E cada vez mais encontro mulheres dizendo isso com brilho nos olhos — e confesso, isso me inspira todo dia.

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