O crime que você comete ao lavar o arroz e o que a ciência diz

É uma cena que se repete em milhões de cozinhas brasileiras todos os dias. Você pega o copo de arroz, coloca em uma vasilha e liga a torneira, lavando os grãos até a água, antes branca e leitosa, sair quase transparente.

É um ritual sagrado, um ensinamento passado de mãe para filha, com a promessa de um arroz mais soltinho, mais limpo e mais saudável. Contudo, e se eu te dissesse que esse hábito pode ser, na melhor das hipóteses, uma perda de tempo e, na pior, um erro?

A ciência, finalmente, decidiu entrar nessa briga de gerações e dar um veredito sobre a questão que divide famílias: lavar ou não lavar o arroz?

A resposta é chocante e muito mais complexa do que nossas avós imaginavam. A verdade é que, dependendo do seu objetivo, lavar o arroz pode ser tanto uma atitude inteligente quanto uma completa inutilidade.

Prepare-se para descobrir o que realmente acontece quando você lava o arroz. A ciência revela que a principal razão pela qual fazemos isso pode ser um mito, mas, ao mesmo tempo, existem outros perigos invisíveis no arroz cru que tornam a lavagem um ato de proteção essencial.

O mito do arroz soltinho: a ciência desmente a vovó

A principal justificativa para lavar o arroz sempre foi a de remover o excesso de amido superficial (a amilose), aquele pó branco que deixa a água turva, garantindo que os grãos fiquem mais soltos depois de cozidos. Faz sentido, certo? Mas, segundo a ciência, isso é um mito.

Um estudo publicado no Journal of Food Science analisou diferentes tipos de arroz e concluiu que a “pegajosidade” do grão não tem a ver com o amido que é lavado, mas sim com a variedade do arroz.

O que determina se ele ficará mais “unido” ou mais solto é a amilopectina, um outro tipo de amido que é liberado durante o cozimento.

Ou seja, se você comprar um arroz do tipo “glutinoso”, pode lavar o dia inteiro que ele continuará empapado. Se comprar um arroz do tipo “agulhinha”, ele já tenderá a ficar mais solto, independentemente da lavagem.

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Os perigos invisíveis que a água realmente leva embora

Se a lavagem não serve para deixar o arroz soltinho, então para que serve? É aqui que a história fica séria. A lavagem é, na verdade, uma questão de segurança alimentar.

  • Microplásticos: Um estudo da Universidade de Queensland, na Austrália, revelou algo assustador: lavar o arroz pode remover até 20% dos microplásticos presentes nos grãos, que se acumulam durante o processo de produção e transporte.
  • Arsênio: Este é o maior vilão. O arsênio é um metal pesado tóxico que pode estar presente no solo e na água onde o arroz é cultivado. Estudos publicados na base de dados científicos PubMed comprovaram que lavar o arroz antes do cozimento pode diminuir significativamente a quantidade de arsênio que nosso corpo absorve.

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O que a lavagem NÃO remove (e que pode te fazer mal)

Apesar de remover impurezas, existe um perigo que a lavagem não elimina: as bactérias. Apenas o cozimento em alta temperatura é capaz de matar microrganismos como o Bacillus cereus, uma bactéria que pode estar presente no arroz cru e causar intoxicação alimentar.

O alerta dos especialistas é que o maior risco não está no arroz cru, mas no armazenamento do arroz já cozido. Deixá-lo em temperatura ambiente por muito tempo pode permitir a proliferação dessa bactéria.

O veredito: lavar ou não lavar?

A resposta final da ciência é: sim, lave o arroz. Não pela textura, como nossas avós acreditavam, mas por uma questão de segurança, para remover possíveis impurezas, microplásticos e, principalmente, reduzir a quantidade de arsênio.

É um gesto simples que pode deixar sua refeição muito mais segura para você e sua família.

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