A ‘doença’ de ficar sozinho que está contaminando uma geração

A cena é um clássico do julgamento social: uma pessoa sentada sozinha em um restaurante, um bar ou no cinema. O primeiro pensamento de quem olha de fora é quase sempre o mesmo: “coitada, está sozinha”.
Por gerações, fomos ensinados que a solidão é sinônimo de tristeza, de fracasso social, um estado a ser evitado a qualquer custo.
Depois da pandemia, essa percepção pareceu se intensificar. Fomos bombardeados com notícias sobre a “epidemia de solidão” e os perigos do isolamento para a saúde mental.
O medo de ficar sozinho se tornou ainda mais palpável, quase uma sentença de infelicidade.
Mas, e se eu te dissesse que, no rastro dessa experiência coletiva, uma “doença” silenciosa e do bem começou a se espalhar?
E se, ao sermos forçados a confrontar nossa própria companhia, muitos de nós tivéssemos descoberto algo poderoso?
Uma nova onda de livros, filmes e discussões nas redes sociais mostra que uma geração inteira está se “contaminando” com o desejo de ficar só — e, para a surpresa de muitos, está encontrando a felicidade nisso.
Isolamento x Solidão: o ‘vírus’ do bem que a pandemia espalhou
O grande segredo por trás dessa mudança de mentalidade é a descoberta da diferença crucial entre duas palavras: isolamento e solidão.
- Isolamento: É o que sentimos na pandemia. É a falta de opção, a dor de se sentir desconectado do mundo contra a sua vontade. É um estado negativo e prejudicial.
- Solidão: É o que muitos descobriram depois. É o ato de escolher passar um tempo consigo mesmo, de forma deliberada e por razões positivas. É um espaço para se reconectar, recarregar as energias e se entender melhor.
Especialistas, como o professor de psicologia Robert Coplan, afirmam que a pandemia nos forçou a entender essa diferença na prática. E essa nova compreensão está mudando a forma como encaramos os relacionamentos.
Prova disso é que uma pesquisa de 2023 revelou que 2 em cada 5 jovens das gerações Millennial e Z acreditam que o casamento é uma tradição ultrapassada.
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Os ‘sintomas’ da solidão: por que ficar sozinho pode te curar?
Ao contrário do que o estigma prega, escolher a solidão pode trazer benefícios incríveis para a saúde mental e emocional. Os “sintomas” dessa “doença” do bem são, na verdade, curativos.
- Aumento da criatividade: A escritora Emma Gannon, autora de um novo romance sobre o tema, afirma que “a solidão inspira um maravilhoso senso de criatividade. Ela faz o cérebro funcionar e incentiva a solução de problemas”.
- Aprofundamento do autoconhecimento: Sem as distrações e as opiniões dos outros, você tem a chance de realmente se ouvir, entender seus desejos e redefinir suas prioridades.
- Prazer nas pequenas coisas: Estar sozinho te ensina a absorver o mundo no seu próprio ritmo. Visitar um museu sem pressa, sentar em uma cafeteria e simplesmente observar as pessoas, ou ouvir um álbum inteiro de música sem interrupções.
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O manual do ‘solitário feliz’: como praticar a solidão sem virar um eremita
Mas como abraçar a solidão de forma saudável? Não se trata de se isolar do mundo, mas de integrar momentos de qualidade consigo mesmo na sua rotina.
- Encontre o seu equilíbrio: O segredo não é o isolamento, mas o balanço. Cada pessoa tem uma necessidade diferente de tempo social e de tempo sozinho. Descubra qual é o seu ponto de equilíbrio ideal.
- Seja ativo na sua solidão: A solidão produtiva não é ficar deitado na cama rolando o feed. É usar esse tempo para hobbies, caminhadas, leituras, cursos online ou qualquer atividade que te nutra.
- Viva a sua vida agora: Uma das dicas mais poderosas, especialmente para os solteiros, é não adiar a felicidade. Não espere ter um parceiro para fazer aquela viagem, ir àquele restaurante ou começar aquele projeto. Sua vida está acontecendo agora.
- Crie rituais: Transforme seus momentos a sós em rituais prazerosos. Um banho demorado ouvindo música, um café da manhã de domingo sem pressa, um momento de leitura antes de dormir. Valorize esse espaço como uma joia preciosa no seu dia.