Seu vício em doces pode ser um ‘fantasma’: veja o que ele está querendo falar

A cena é um clássico para quem tenta controlar o peso ou simplesmente comer de forma mais saudável. Você está indo bem, firme na dieta, mas então come um único brigadeiro. E, como se uma comporta tivesse sido aberta, a vontade por mais um, e mais um, se torna avassaladora. É o famoso ciclo vicioso: “açúcar chama açúcar”.

Essa experiência nos leva a acreditar em uma narrativa que já virou quase uma verdade absoluta: a de que o açúcar é um vício. Acreditamos que ele age no nosso cérebro como uma droga, e que, uma vez que provamos um pouco, estamos condenados a uma espiral de desejo incontrolável.

Isso gera um sentimento imenso de culpa e de falta de autocontrole. “Eu sou fraco”, “eu não tenho força de vontade”, “eu sou viciado em doces”.

Mas, e se eu te dissesse que essa crença, que alimenta tanta culpa e frustração, pode ser apenas um “fantasma”? E se a ciência estivesse começando a provar que essa ideia de que “comer doce te faz querer mais doce” não passa de um grande mito?

Um novo estudo rigoroso foi desenhado para testar exatamente isso, e os resultados podem mudar tudo o que você pensa sobre a sua relação com o açúcar.

O experimento que colocou o ‘vício’ à prova

Cansados de ouvir essa narrativa sem uma comprovação científica robusta, pesquisadores da Universidade de Wageningen, na Holanda, decidiram realizar o teste definitivo. Eles reuniram 180 pessoas e as dividiram em três grupos por seis longos meses:

  • Grupo 1 (Controle): Consumiu uma quantidade baixa de sobremesas, seguindo as recomendações nutricionais.
  • Grupo 2 (Moderado): Consumiu uma quantidade moderada de doces.
  • Grupo 3 (Alto Consumo): Consumiu uma grande quantidade de doces diariamente.

Para garantir a precisão, os cientistas usaram marcadores na urina dos participantes para medir o consumo real de açúcar, enquanto questionários mediam o nível de desejo e preferência por doces de cada um.

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O resultado que ninguém esperava: comer mais não te faz querer mais

Após seis meses de experimento, o resultado foi chocante e totalmente contra-intuitivo. Os pesquisadores descobriram que não houve nenhuma diferença significativa no desejo por doces entre os três grupos.

Ou seja, as pessoas que comeram uma grande quantidade de sobremesas não desenvolveram uma vontade maior de comer açúcar do que aquelas que comeram pouco ou quase nada.

A teoria de que “açúcar chama açúcar” não se sustentou. “Essa noção é mais uma narrativa popular do que uma conclusão científica comprovada”, afirmou a professora Kees de Graaf, autora da pesquisa.

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Mas então, de onde vem essa vontade? E o açúcar está liberado?

Se o desejo não vem do consumo, de onde ele vem? E o que essa descoberta significa na prática?

  • A ressalva importante: Antes de tudo, é preciso dizer que outros especialistas, como o presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, Durval Ribas Filho, alertam que o estudo é relativamente pequeno e precisa de mais pesquisas para uma conclusão definitiva.
  • Hábito e conforto emocional: A vontade por doces pode estar muito mais ligada a fatores psicológicos e de hábito do que a uma “dependência” química. Comemos doces para celebrar, para nos confortar em um dia ruim ou simplesmente porque o nosso cérebro se acostumou com aquela recompensa depois do almoço.
  • Açúcar não está liberado: O estudo também trouxe outro dado interessante. Mesmo o grupo que consumiu altas doses de açúcar não apresentou, nos seis meses, piora em indicadores de saúde como ganho de peso ou risco de diabetes. Mas, os próprios pesquisadores reforçam que a moderação continua sendo a chave, pois os efeitos negativos do excesso de açúcar a longo prazo já são mais do que comprovados, especialmente no caso de bebidas açucaradas.

A grande lição do estudo, portanto, não é que podemos comer açúcar à vontade, mas sim que a culpa que sentimos, aquela sensação de sermos “viciados” e fracos, talvez seja apenas um fantasma. E entender isso pode ser o primeiro passo para ter uma relação mais saudável e menos angustiante com a comida.

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