Guerra contra vermes: você está atirando certo ao tomar vermífugo todos os dias

A cena é um clássico na memória de muitos brasileiros: a mãe ou a avó, com um copinho de um remédio amargo na mão, anunciando que era o dia da “limpeza”, o dia de tomar o vermífugo anual. Era um ritual, um cuidado passado de geração em geração, nascido em uma época em que as condições de saneamento eram outras e o risco de ter vermes era real e constante.

Essa tradição, que tem raízes em uma necessidade do passado, sobreviveu e ganhou uma nova roupagem no século 21.

Hoje, nas redes sociais, “influencers” e “gurus” de saúde promovem o que chamam de “protocolo de desparasitação”, vendendo a ideia de que todo adulto precisa fazer essa “faxina” interna uma vez por ano para se livrar de impurezas e ter mais saúde.

Mas, e se eu te dissesse que essa guerra que você resolveu travar contra um inimigo invisível pode ser uma grande cilada? E se a arma que você está usando nesta batalha fantasma estiver, na verdade, causando danos colaterais ao seu próprio corpo?

A ciência é clara, e o veredito pode te surpreender: para a maioria dos adultos, essa prática não é só inútil, como também pode ser perigosa.

O veredito da ciência: por que a ‘faxina’ anual não faz sentido

A recomendação de tomar vermífugo anualmente era uma estratégia de saúde pública em um Brasil com pouco acesso à água tratada e esgoto. Hoje, para a grande maioria da população que vive em áreas urbanas com saneamento básico, o risco de contrair verminoses caiu drasticamente.

Os médicos e as organizações de saúde são unânimes: não existe qualquer evidência científica que justifique a desparasitação em massa e periódica de adultos saudáveis e sem sintomas. Essa prática é, hoje, considerada um mito.

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O tiro no fígado: os 4 perigos de tomar vermífugo sem precisar

Tomar um remédio sem necessidade nunca é uma boa ideia, mas no caso dos vermífugos, os riscos são concretos e vão muito além de um simples “não vai fazer mal”. Você pode estar, literalmente, atirando no próprio pé.

  1. Sobrecarga inútil do fígado: Vermífugos são drogas potentes, cheias de químicos que são processados e metabolizados pelo seu fígado. Forçar seu fígado a trabalhar para eliminar um remédio que não tem função alguma no seu corpo é uma sobrecarga desnecessária e prejudicial.
  2. Efeitos colaterais por nada: Náuseas, vômitos, dor de cabeça, tontura e desconforto abdominal são efeitos colaterais comuns desses medicamentos. Você pode estar se sentindo mal para combater um inimigo que nem existe.
  3. Criação de ‘super-vermes’: Este é o risco mais sério a longo prazo. O uso indiscriminado de vermífugos pode ajudar a criar cepas de parasitas mais resistentes aos medicamentos. Isso significa que, no futuro, quando alguém realmente precisar do remédio, ele pode não funcionar mais.
  4. Mascarar a doença real: Se você sente algum desconforto abdominal e, por conta própria, toma um vermífugo, pode estar atrasando o diagnóstico de um problema mais sério, como uma gastrite, uma intolerância alimentar ou até doenças mais graves.

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Então, quando é que eu devo me preocupar?

A resposta é simples: você só deve tomar vermífugo quando um médico prescrever. A desparasitação só é indicada em duas situações claras:

  • Após um diagnóstico clínico: Se você apresentar sintomas claros e um médico, após avaliação, suspeitar de uma verminose.
  • Após um exame positivo: Com o resultado de um exame de fezes que comprove a presença de vermes ou seus ovos.

Fora isso, a “faxina anual” é um mito perigoso. A melhor forma de se manter saudável não é com um remédio periódico, mas com hábitos simples, como lavar bem as mãos e os alimentos.

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