Epidemia de TDAH do TikTok é uma farsa e a psicologia explica

A cena é um fenômeno da nossa era digital. Você está rolando o feed do seu TikTok ou Instagram, e um vídeo prende sua atenção: “5 sinais de que você tem TDAH e não sabia”. Você assiste. A dificuldade de se concentrar, a procrastinação, o hiperfoco em coisas que você ama… um por um, os sintomas parecem descrever exatamente a sua vida. O coração acelera. A revelação é um choque: “Meu Deus, é isso! A peça que faltava. Eu tenho TDAH!”.
Nesse momento, uma sensação de alívio te inunda. Finalmente, uma explicação para todos os seus desafios, para toda a sua “bagunça” interna.
Você não é preguiçoso, desorganizado ou “esquisito”. Você tem um transtorno. O rótulo, que vem de um vídeo de 30 segundos, parece libertador. Você se sente parte de uma comunidade, finalmente compreendido.
Mas, e se eu te dissesse que esse alívio é uma ilusão perigosa? E se esse rótulo, que parece te libertar, for na verdade uma nova e sofisticada prisão?
Uma psicóloga está fazendo um alerta gravíssimo: a “epidemia” de TDAH e autismo que tomou conta das redes sociais é um fenômeno que, embora pareça ajudar, pode estar, na verdade, te adoecendo ainda mais e te impedindo de encontrar a verdadeira cura.
Os ‘falsos profetas’: 80% do conteúdo não tem base científica
O primeiro soco de realidade vem dos números. Uma análise sobre o conteúdo de saúde mental que circula nas redes sociais revelou um dado assustador: cerca de 80% dos vídeos e posts não têm nenhuma validação ou respaldo clínico.
E pior: apenas 9% dos criadores que falam sobre o tema têm, de fato, alguma formação profissional na área da saúde. Isso significa que, na grande maioria das vezes, você está recebendo um “diagnóstico” de um leigo, de alguém que é muito bom em criar um conteúdo viral e que faz você se identificar, mas que não tem a menor ideia do que está falando.
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A ‘prisão’ do rótulo: por que o autodiagnóstico te impede de melhorar
Segundo a psicóloga clínica Fernanda Arozqueta, que tem recebido uma avalanche de pacientes com autodiagnóstico em sua clínica online, o perigo de se apegar a um rótulo da internet é triplo.
- Ele pode estar errado: Os sintomas que você acha que são de TDAH — como a falta de foco e a procrastinação — podem, na verdade, ser sintomas de ansiedade, depressão, problemas na tireoide ou até deficiências de vitaminas. Ao se agarrar ao diagnóstico do TikTok, você deixa de investigar a causa real do seu sofrimento.
- Ele vira uma muleta: O rótulo, que antes era um alívio, se transforma em uma justificativa. “Eu não consigo fazer isso porque tenho TDAH”. Em vez de te ajudar a superar seus desafios, ele te aprisiona neles.
- Ele pode levar à automedicação: O passo seguinte ao autodiagnóstico, muitas vezes, é a busca por “soluções” que outros influencers recomendam, como suplementos e até remédios, sem nenhum acompanhamento médico, o que é extremamente perigoso.
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A ‘ponte’ para a cura: o caminho real para entender sua mente
Se identificar com um vídeo não é o problema. O problema é transformar essa identificação em uma certeza. O caminho correto, segundo os especialistas, é usar essa curiosidade como um gatilho para a ação de verdade.
- O primeiro passo: A atitude correta não é “eu tenho TDAH”, mas sim “será que eu tenho TDAH? O que pode estar causando esses sintomas?”.
- A ponte para a cura: O único caminho seguro para responder a essa pergunta é buscando ajuda profissional. Um psicólogo vai te ajudar a entender a origem emocional dos seus comportamentos. E um psiquiatra é o único profissional no mundo que pode, de fato, te dar um diagnóstico oficial e seguro de qualquer transtorno.
A saúde mental é complexa demais para ser resumida em um vídeo de 30 segundos. Pedir ajuda profissional não é um sinal de fraqueza, mas sim o primeiro ato de quem realmente decidiu se curar.