A ‘doença’ da sardinha: o peixe “pobre” que virou fetiche de luxo na moda

Se você rolar o feed do seu Instagram ou der uma volta no shopping, talvez se depare com uma cena, no mínimo, inusitada: sardinhas. Mas não no prato. Elas estão estampadas em vestidos, bordadas em bolsas de miçanga e penduradas em brincos. A primeira reação é de estranhamento, seguida por uma pergunta inevitável: “Sério mesmo? O peixe de lata virou moda?”.

E a resposta é um sonoro “sim”. O que parecia uma piada isolada se transformou em uma verdadeira febre fashion, uma obsessão que tomou conta do verão no Hemisfério Norte e já desembarcou com força no Brasil.

Marcas de luxo como Bottega Veneta e grifes descoladas como a Staud estão apostando todas as as suas fichas no peixe. E não demorou para que gigantes do varejo, como Renner e C&A, também mergulhassem nessa onda.

Os dados confirmam: em maio, as buscas no Google por “vestido de sardinha” dobraram, enquanto a procura por “bolsa de sardinha” explodiu em 300%.

Mas, o que explica essa “doença” repentina? Por que um peixe tão comum, barato e, para muitos, com um cheiro um tanto polêmico, se tornou o novo objeto de desejo da moda?

A resposta pode ser muito mais profunda e inteligente do que uma simples excentricidade passageira.

A explicação ensolarada: nostalgia de um verão no Mediterrâneo

A primeira teoria, e a mais óbvia, é a de que a sardinha evoca um sentimento de nostalgia e escapismo. Sarah Staudinger, diretora criativa da marca Staud, que foi uma das pioneiras da tendência, disse que a ideia era usar um símbolo lúdico.

“Elas [as sardinhas] me lembram instantaneamente de longos e preguiçosos almoços de verão no Mediterrâneo”, explicou. Nessa visão, a sardinha na roupa é uma forma de carregar consigo a memória de férias, do mar, do sol e de uma vida mais simples e prazerosa.

É uma explicação charmosa, mas talvez não seja a única.

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A verdade pode ser mais salgada (e econômica)

Aqui, a história fica mais interessante. Existe uma segunda interpretação, muito mais afiada e conectada com o momento em que vivemos. Em uma época de inflação alta e custo de vida nas alturas, até mesmo a comida do dia a dia se tornou um item de luxo para muitas famílias.

Ir ao supermercado e encher o carrinho virou um ato de poder aquisitivo. Nesse contexto, a moda, que é um espelho da sociedade, se apropria da comida como o novo símbolo de status.

Ostentar não é mais apenas ter uma bolsa de grife, mas ter uma bolsa de grife com o desenho de uma lata de sardinha.

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Não é só a sardinha: a comida que virou o novo diamante

Essa tendência de transformar comida em moda não é totalmente nova — a estilista Elsa Schiaparelli fez um famoso vestido de lagosta com Salvador Dalí nos anos 1930. Mas a intensidade com que isso acontece hoje é um reflexo direto das nossas ansiedades econômicas.

Ao estampar uma sardinha — historicamente vista como um alimento barato, um “peixe de pobre” — em uma peça de roupa cara, a moda cria uma ironia sofisticada. Ela transforma o básico em fetiche, o acessível em objeto de desejo.

A sardinha, neste caso, não é apenas um peixe. Ela é um comentário ácido sobre quem pode, e quem não pode, se dar ao luxo de ter prazeres simples na vida.

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