A palavra que castrou um bicho inteiro e a culpa é do português

A cena é um clássico. Você está em um jardim, em um parque ou no campo, e uma linda borboleta colorida pousa em uma flor. Você aponta, admira, e então a dúvida, que parece um bug no sistema da nossa cabeça, surge: “se essa é A borboleta, como a gente chama o macho? Seria O borboleto?”.

A confusão é totalmente compreensível. Desde pequenos, aprendemos na escola que as coisas em português têm masculino e feminino: o gato e a gata, o cachorro e a cachorra, o leão e a leoa.

A lógica nos diz que, para toda fêmea, deveria existir um macho com um nome correspondente. É uma das regras mais básicas do nosso idioma.

Mas, e se eu te dissesse que, em sua longa e complexa evolução, a língua portuguesa cometeu uma espécie de “crime” contra a borboleta?

E se, por razões históricas e etimológicas, o nosso idioma tivesse, de certa forma, “castrado” um bicho inteiro, negando a ele uma identidade masculina própria no dicionário? A resposta para esse mistério revela uma das regras mais curiosas e esquecidas da nossa gramática.

O veredito: não, a palavra ‘borboleto’ não existe

Vamos direto ao ponto para acabar com a sua angústia: não, não existe “o borboleto”. A palavra borboleta é o que a gramática chama de substantivo sobrecomum. E o que diabos isso significa?

Significa que a mesma palavra, sempre no gênero feminino (“a borboleta”), é usada para se referir tanto ao macho quanto à fêmea. O substantivo não muda nunca, não importa o sexo do animal. É como se a língua tivesse decidido que a “marca” borboleta seria sempre feminina.

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Mas então, como diferenciar? A regra dos substantivos ‘preguiçosos’

Se a palavra é uma só, como fazemos para especificar o sexo do bicho quando necessário? É aí que a língua portuguesa usa um truque simples: ela adiciona as palavras “macho” e “fêmea” depois do substantivo. Simples assim.

  • O jeito certo: “Aquela é a borboleta fêmea” ou “Olha, a borboleta macho pousou na flor”.

E a borboleta não está sozinha nesse “clube dos preguiçosos”. Existem vários outros animais que seguem a mesmíssima regra.

  • A águia (macho e fêmea)
  • A barata (macho e fêmea)
  • A cobra (macho e fêmea)
  • O jacaré (macho e fêmea) – Sim, “o jacaré fêmea” está correto!
  • A pulga (macho e fêmea)

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Na natureza a história é outra: o macho que é o ‘pavão’

A ironia é que, embora a gramática tenha “apagado” o macho, na natureza a história é bem diferente. Em muitas espécies de borboletas, é o macho quem dá o show.

  • Cores e tamanho: Geralmente, os machos são menores, mas muito mais coloridos e vibrantes que as fêmeas. Suas cores exuberantes são uma estratégia para atrair as parceiras e se destacar na hora do acasalamento.
  • Comportamento: São os machos que, muitas vezes, realizam os voos mais acrobáticos e as “danças” no ar para cortejar as fêmeas. Eles são os verdadeiros “pavões” do mundo das borboletas.

Portanto, da próxima vez que essa dúvida surgir, você já terá a resposta na ponta da língua. A “castração” do “borboleto” foi apenas gramatical; na vida real, ele continua sendo o grande conquistador.

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