Doar sangue para quem tem tatuagem é permitido ou tem restrição?

Você vê as campanhas do Junho Vermelho, os apelos nos hemocentros, as notícias sobre os estoques de sangue em baixa. Você sente a vontade de ajudar, de estender o braço e fazer a sua parte para salvar vidas. Mas, então, você olha para a sua própria pele, para as suas tatuagens, e um balde de água fria cai sobre a sua boa intenção: “eu não posso, sou tatuado”.
Esse pensamento, que ecoa na cabeça de milhões de brasileiros, é um dos maiores e mais persistentes mitos sobre a doação de sangue.
É uma “verdade” que se espalhou e que, todos os anos, impede que um exército de potenciais doadores ajude a quem mais precisa. A imagem da pessoa tatuada sendo automaticamente barrada no hemocentro virou um clichê.
Mas, e se eu te dissesse que essa proibição é uma grande mentira? E que você, com suas tatuagens, pode sim, ser um herói e salvar até quatro vidas com uma única doação? A verdade é que a sua tatuagem não te impede de doar sangue.
O que te impede, temporariamente, é uma “quarentena” obrigatória, um período de espera que a ciência exige para garantir a segurança de todos.
A ‘quarentena’ obrigatória: os 6 meses que te separam da doação
Vamos direto ao ponto e sem rodeios. A regra de ouro para quem tem tatuagem e quer doar sangue é uma só: você precisa esperar 6 meses (ou 180 dias) após a data em que você fez a sua última tatuagem. Mas por que essa espera?
A razão não tem nada a ver com a tinta ou com o desenho, mas sim com um conceito chamado “janela imunológica”.
Quando você faz uma tatuagem, sua pele é perfurada por agulhas. Mesmo que o estúdio seja extremamente limpo e seguro, existe um risco, ainda que pequeno, de contrair alguma infecção transmissível pelo sangue, como as hepatites B e C ou o HIV.
A “janela imunológica” é o tempo que o nosso corpo leva para produzir anticorpos em quantidade suficiente para que essas doenças possam ser detectadas nos exames de sangue que são feitos em toda bolsa doada.
A espera de 6 meses é, portanto, uma medida de segurança máxima para proteger a saúde de quem vai receber o seu sangue.
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Mas não é só a tatuagem: o que mais te coloca ‘de molho’
Essa mesma “quarentena” de 6 meses não vale apenas para tatuagens. Ela é a regra para qualquer procedimento que envolva perfuração da pele com agulhas não descartáveis ou o contato com sangue. Fique atento, pois a mesma espera é exigida para quem fez:
- Micropigmentação (nas sobrancelhas, lábios, etc.).
- Maquiagem definitiva.
- Piercings (seja no corpo ou no rosto).
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O ‘manual do doador tatuado’: o que você precisa saber antes de ir ao hemocentro
Agora que você sabe que pode doar, precisa conhecer as regras do jogo para não perder a viagem até o hemocentro.
- O Estúdio é Crucial: A regra dos 6 meses só vale se a sua tatuagem foi feita em um estúdio profissional, com alvará da vigilância sanitária e com material 100% descartável. Se você fez sua tatuagem em um local clandestino ou em condições de higiene duvidosas, você pode, sim, ser barrado de forma permanente.
- A Quantidade Não Importa: Se você tem uma ou cinquenta tatuagens, não faz diferença. O que importa é sempre a data da última que você fez.
- Seja 100% Honesto: Na entrevista de triagem que acontece antes da doação, seja completamente sincero sobre quando e onde você fez suas tatuagens. Não tente mentir ou omitir informações. A segurança do sangue é a prioridade número um.
Sua tatuagem não é uma barreira para a sua solidariedade. Ela é apenas um chamado para uma responsabilidade extra. Cumpra a sua “quarentena” e, depois, junte-se ao exército de heróis que, com um simples gesto, salvam vidas todos os dias.